Respondendo ao islã
Sejam bem-vindos

Allá, Adão e os Anjos

Sam Shamoun

O Alcorão tem muito a dizer sobre a relação entre Allá, Adão, os anjos e Satanás. De fato, algumas coisas que o Alcorão diz sobre essas pessoas ou entidades erguem uma série de perguntas e comentários. Este é especificamente o caso da Sura 2:30-38 que citaremos em breve.

(Recorda-te ó Profeta) de quando teu Senhor disse aos anjos: Vou instituir um legatário na terra! Perguntaram-Lhe: Estabelecerás nela quem alí fará corrupção, derramando sangue, enquanto nós celebramos Teus louvores, glorificando-Te? Disse (o Senhor): Eu sei o que vós ignorais. Ele ensinou a Adão todos os nomes e depois apresentou-os aos anjos e lhes falou: Nomeai-os para Mim e estiverdes certos. Disseram: Glorificado sejas! Não possuímos mais conhecimentos além do que Tu nos proporcionaste, porque somente Tu és Prudente, Sapientíssimo. Ele ordenou: Ó Adão, revela-lhes os seus nomes. E quando ele lhes revelou os seus nomes, asseverou (Deus): Não vos disse que conheço o mistério dos céus e da terra, assim como o que manifestais e o que ocultais? E quando dissemos aos anjos: Prostrai-vos ante Adão! Todos se prostraram, exceto Lúcifer que, ensoberbecido, se negou, e incluiu-se entre os incrédulos. Determinamos: Ó Adão, habita o Paraíso com a tua esposa e desfrutai dele com a prodigalidade que vos aprouver; porém, não vos aproximeis desta árvore, porque vos contareis entre os iníquos. Todavia, Satã os seduziu, fazendo com que saíssem do estado (de felicidade) em que se encontravam. Então dissemos: Descei! Sereis inimigos uns dos outros, e, na terra, tereis residência e gozo transitórios. Adão obteve do seu Senhor algumas palavras de inspiração, e Ele o perdoou, porque é o Remissório, o Misericordioso. E ordenamos: Descei todos aqui! Quando vos chegar de Mim a orientação, aqueles que seguirem a Minha orientação não serão presas do temor, nem se atribularão. S. 2:30-38

A passagem acima traz diversas perguntas. Primeiro, como os anjos sabiam qual seria a condição do homem antes mesmo da criação dele? De onde tiraram a idéia de que o homem seria uma criatura violenta? Quem disse-lhes isso? O texto não diz nada sobre Allá dar-lhes nenhuma informação. Os anjos são oniscientes?

Segundo, Allá ensina Adão em segredo nomes não especificados para silenciar os anjos que se queixam contra o homem. Não foi injusto Allá ensinar a Adão esses nomes e depois continuar desafiando os anjos a fazerem o mesmo? Allá precisa usar de fraude e mentiras para se garantir contra as acusações apresentadas contra Adão pelos anjos (acusações que se demonstraram estar corretas)? Não está óbvio Adão seria tão ignorante quanto os anjos a respeito dessas coisas se Allá não o tivesse ensinado? Que tipo de defesa é essa tendo em vista que Adão apenas soube esses nomes porque Allá os ensinou a ele, ao passo que os anjos eram ignorantes apenas porque Allá não os ensinou essas coisas?

E como é que dizer o nome das coisas justifica a criação do homem apesar de todo o mal e violência que ele viria a cometer? No fim de tudo, se há um valor superior nos homens que justifique sua criação apesar de seu comportamento pecaminoso, então esse valor deveria ser apresentado de modo claro ao invés de se usar truques de enganação que dificilmente mostram alguma superioridade nos homens. Allá poderia ensinar esses nomes a qualquer um. Essa ação de ensinar ao homem o nome de todas as coisas não fornece de forma alguma razão suficiente para que o homem fosse criado tendo em vista o fato de que ele derramaria sangue. Allá poderia simplesmente ter ensinado esses nomes aos anjos, e assim alguém saberia os nomes (se é que isso era necessário), sem que sangue viesse a ser derramado. Então, de verdade, qual é sentido dessa história?

Terceiro, após usar de fraude para silenciar os anjos, Allá continua e ordena que os anjos adorem os homens. Essa ordem para adorar obviamente foi o resultado de o homem ter sido melhor que eles ao dizer o nome das coisas que Allá o ensinou pessoalmente. Por isso precisamos perguntar, por que fazer os anjos adorar Adão por ter sido capaz de dizer o nome das coisas que eles não sabiam se o homem apenas sabia porque Allá os ensinou a ele? E por que Allá está ordenando que eles se prostrem diante de Adão, uma criatura, se isso é absolutamente proibido no Islã? Se argumentarem que a prostração significava respeito e não adoração, então porque esse ato é hoje proibido no Islã? Está óbvio eu Allá, diferentemente do Deus da Bíblia, está sempre mudando seus mandamentos e idéias ao passar do tempo.

Quarto, Iblis ou Satanás é repreendido por não adorar Adão, mesmo que a ordem tenha sido dada aos anjos. Segundo o Alcorão, Iblis (Satanás) não é um anjo, ele é um jinn (gênio):

E (lembra-te) de quando dissemos aos anjos: Prostrai-vos ante Adão! Prostraram-se todos, menos Lúcifer, que era um dos gênios, e que se rebelou contra a ordem do seu Senhor. Tomá-los-íeis, pois, juntamente com a sua prole, por protetores, em vez de Mim, apesar de serem vossos inimigos? Que péssima troca a dos iníquos! S. 18:50

O antigo Maulana Muhammad Ali escreveu em sua tradução do Alcorão:

50a. Iblis é um dos jinn ou espíritos do mal, então é um erro tomá-lo por anjo ou um bom espírito. O espírito do mal é sempre rebelde, e ele é contrário ao homem alerta, de modo que deve resistir a cada tendência maligna. (Fonte; ênfase em sublinhado é nossa)

Então por que Allá acusa Iblis por não obedecer a uma ordem dada aos anjos e não aos jinn? O Muçulmano a seguir acha que tem a resposta:

18. IBLIS – ANJO OU JINN?

Pergunta:

O Alcorão em diversos lugares diz que Iblis era um anjo, mas na Sura Kahf se diz que Iblis era um Jinn. Esta não é uma contradição no Alcorão?

Resposta:

1.      O incidente de Iblis e dos anjos mencionado no Alcorão

A história de Iblis é mencioada no Alcorão em vários lugares em que Allá (swt) diz, “Dissemos para que os anjos se prostrassem diante de Adão, e eles se prostraram, exceto Iblis”.

Isso é mencionado em:

Surah Al Baqarah capítulo 2 verso 43

Surah Al ‘Araf capítulo 7 verso 17

Surah Al Hijr capítulo 15 versos 28-31

Surah Al Isra capítulo 17 verso 61

Surah Ta Ha capítulo 20 verso 116

Surah Sad capítulo 38 versos 71-74

Mas na Sura Al Kahf capítulo 18 verso 50 o Alcorão diz:

“E (lembra-te) de quando dissemos aos anjos: Prostrai-vos ante Adão! Prostraram-se todos, menos Lúcifer, que era um dos gênios” [Al-Qur’na 18:50]

2.      A regra Árabe de Tagleeb

A tradução para o Inglês (Português) da primeira parte do verso “dissemos aos anjos: Prostrai-vos ante Adão! Prostraram-se todos, menos Lúcifer”, nos dá a impressão de que Lúcifer era um anjo. O Alcorão foi revelado em Árabe. Na gramática Árabe há uma regra conhecida como Tagleeb, segundo a qual se uma maioria é direcionada, até mesmo a minoria é incluída. Se, por exemplo, me dirijo a uma sala de aula contendo 100 estudantes dos quais 99 são meninos e 1 é menina, e digo em Árabe para que os meninos fiquem em pé, isso incluirá também a menina. Eu não preciso mencioná-la separadamente.

Similarmente no Alcorão quando Allá se dirigiu aos anjos, Lúcifer também estava presente, mas não se fez necessário mencioná-lo separadamente. Assim, segundo essa frase, Lúcifer (Iblis) pode ser ou não ser um anjo, mas pela Sura Al Kahf capítulo 18 verso 50 ficamos sabendo que Iblis não era um Jinn. Em lugar algum do Alcorão se diz que Iblis era um anjo. Assim não há contradição no Alcorão. (Fonte).

Para demonstrar como essa explicação ad hoc é tão forçada quanto muito fraca, vamos usar a mesma analogia e mudá-la apenas um pouco. Se, por exemplo, me dirijo a uma sala de aula contendo 100 estudantes dos quais 99 são meninos e 1 é menina, e acontece que há alguns pais presentes com seus filhos, e eu digo em Árabe que todos os meninos devem pôr-se em pé, e assim nenhum dos pais se levanta, eu não poderia legitimamente dizer que foram desrespeitosos porque eu não me dirigi a eles diretamente. Imaginemos que nessa sala de aula tanto o diretor quanto o vice-diretor estão presentes e não se põem de pé após eu dizer que os meninos deviam se levantar de suas cadeiras. Eu poderia acusar o diretor e o vice de me desrespeitarem? Claro que não, já que eles não estão na categoria dos meninos, e nem estão na categoria dos alunos da sala de aula. Se eu quisesse que tanto os pais quanto os diretores da escola ficasse em pé, eu deveria me dirigir a eles especificamente.

O exemplo de Naik apenas serviria como uma analogia válida se tivéssemos a certeza de que Iblis pertence à mesma categoria de seres que os anjos. É óbvio que a menina na analogia de Naik está na mesma categoria geral dos colegas de classe, então uma referência aos meninos pode incluí-la já que o termo ‘meninos’ não seria uma especificação direta ao gênero neste caso. A menção de meninos neste contexto seria uma declaração geral a um grupo que consiste de crianças e colegas de classe. O termo incluiria, assim, todas as pessoas que estivessem dentro dessa categoria, sem dizer respeito ao gênero.

Mas, não há nada no Alcorão que indique que os jinn são da mesma categoria de criaturas como os anjos. De fato, os Muçulmanos vêem o texto a seguir como uma negação de que os jinn são anjos já que crêem que essas passagens de alguma forma indicam que foram formadas a partir de diferentes elementos e que os anjos jamais desobedeceriam, enquanto os jinn realmente podem, se assim escolherem:

Ante Deus se prostra tudo o que há nos céus e na terra, bem como os anjos, que não se ensoberbecem! Temem ao seu Senhor, que está acima deles, e executam o que lhes é ordenado. S. 16:49-50

Ó fiéis, precavei-vos, juntamente com as vossas famílias, do fogo, cujo alimento serão os homens e as pedras, o qual é guardado por anjos inflexíveis e severos, que JAMAIS DESOBEDECEM às ordens que recebem de Deus, mas executam tudo quanto lhes é imposto. S. 66:6

No dia em que Ele congregar todos (e disser): Ó assembléia de gênios, já seduziste bastante o homem!, seus asseclas humanos dirão: Ó Senhor nosso, utilizamo-nos mutuamente; porém, agora, alcançamos o término que nos fixaste, Então, ser-lhes-á dito: O fogo será a vossa morada, onde permanecereis eternamente, salvo para quem Deus quiser livrar disso. Teu Senhor é Prudente, Sapientíssimo. Assim, damos poder a alguns iníquos sobre os outros, por causa do que lucraram. Ó assembléia de gênios e humanos, acaso não se vos apresentaram mensageiros, dentre vós, que vos ditaram Meus versículos e vos admoestaram com o comparecimento neste vosso dia? Dirão: Testemunhamos contra nós mesmos! A vida terrena os iludiu, e confessarão que tinham sido incrédulos. s. 6:128-130

Temos criado para o inferno numerosos gênios e humanos com corações com os quais não compreendem, olhos com os quais não vêem, e ouvidos com os quais não ouvem. São como as bestas, quiçá pior, porque são displicentes. S. 7:179

Nesse dia, nenhum homem ou gênio será inquirido por seu pecado. S. 55:39

{Nota: Para ver mais problemas sobre a afirmação de que os anjos não desobedecem, por favor consulte os seguintes artigos, todos em Inglês até este momento: [1], [2], [3], [4].}

Lembre-se que, dependendo da tradução do Alcorão, pode-se constar o nome ‘gênio’ ou ‘jinn’. O mesmo ocorre com ‘Iblis’ e ‘Lúcifer’ ou ‘Satanás’.

Um dos principais problemas da posição Muçulmana é que há referência que dizem que os jinn foram criados do fogo:

Antes dele, havíamos criado os gênios de fogo puríssimo. S. 15:27

E criou os gênios do fogo vivo. S. 55:15

O Alcorão é totalmente silencioso a respeito da criação dos anjos, i.e. eles são criados de outro elemento diferente do dos jinn e são, consecutivamente, uma categoria diferente de criaturas, ou ambos são criados do mesmo material. Ainda assim, é crença de muitos, se não for da maioria, estudiosos Islâmicos que os anjos e jinn são criaturas diferentes.

E ainda, há situações onde apenas uma parte da classe supostamente se põe de pé. Apenas imagine que há 30 meninos em uma classe. O professor diz que todos os meninos devem pôr-se em pé. Ela se refere a todos os alunos de lá? Ou pode ser que ela realmente quis dizer apenas os meninos e não as meninas? Por exemplo, porque os meninos poderiam deixar a sala para ir à aula auto-mecânica para aprender a consertar carros enquanto as meninas permaneceriam na sala para aprender tricô ou algo dessa natureza. Assim, isso não é regra, é o contexto quem determina o sentido.

Agora, se o Alcorão tivesse simplesmente dito que Allá ordenou que todos os seres celestiais ou que os habitantes do céu adorassem a Adão, então a história seria totalmente diferente. A referência aos habitantes do céu incluiria Iblis, presumindo, claro, que este evento ocorreu no céu e que ele era uma criatura celeste, em oposição às terrestres.

Para ajudar um pouco, levemos este ponto a outra ilustração. Suponhamos que no céu há anjos, jinn, homens e animais presentes quando Allá escolhe apenas um homem, Adão, para uma honra e bênçãos especiais. Suponhamos que Allá ordenou que todos os anjos se curvassem diante de Adão, e eles o fazem, mas não o fazem os outros homens, jinn ou animais. Allá poderia acusá-los de não ter se prostrado diante de Adão mesmo com o fato de que ele jamais citou especificamente nenhum desses grupos tal como fez com o grupo dos anjos? A resposta óbvia é claro que não.

Assim, o argumento de Naik é muito fraco e nada convincente. O Dr. Naik está simplesmente cometendo a falácia da falsa analogia neste caso.

Quinto, a passagem diz que Adão/Homem era para ser o vice-rei/vice-regente de Allá na terra, com outras passagens dizendo que ele foi criado do barro, pó, argila, etc.

O exemplo de Jesus, ante Deus, é idêntico ao de Adão, que Ele criou do , então lhe disse: Seja! e foi. S. 3:59

Criamos o homem de argila, de barro modelável. S. 15:26

Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado do ; logo, sois, seres que se espalham (pelo globo). S. 20:30

Se diz que Adão e sua esposa entraram para morar no Jardim juntos, o que pode significar que o Jardim estava localizado em algum lugar na terra. Já a Sura 2:36 sugere o contrário:

Todavia, Satã os seduziu, fazendo com que saíssem do estado (de felicidade) em que se encontravam. Então dissemos: Descei! Sereis inimigos uns dos outros, e, na terra, tereis residência e gozo transitórios.

A passagem acima parece estabelecer o Jardim em algum lugar no céu, já que se diz que Adão e Eva deveriam descer para habitar na terra. Yusuf Ali faz a seguinte observação a respeito da Sura 2:35:

Seria o Paraíso um lugar nesta terra: obviamente não. Porque, segundo o versículo subseqüente, o 36, foi depois da Queda que a sentença foi pronunciada: "Na terra tereis residência a gozo transitórios". Antes da Queda, é de supor-se que o homem estivesse em outro plano – de felicidade, inocência, confiança, enfim, numa existência espiritual, onde imperava a negação da inimizade, prevalecia o desejo da fé, e de onde se bania todo o malefício. Talvez o tempo e o espaço também não existissem, e o Paraíso fosse algo alegórico, como a árvore. Esta não era a do conhecimento, porquanto foi concedido ao homem, naquele perfeito estado, um conhecimento mais pleno do que o que ele desfruta atualmente; era a árvore do mal, de cujos frutos ele ficou proibido, não só de comer, mas também de se aproximar. (Fonte)

Maulana Muhammad Ali descorda:

35a. O jardim falado neste verso era na terra, e é na terra que o homem foi posto. Com certeza não era o paraíso para o qual os homens vão após morrerem e do qual jamais serão expulsos (15:48) ... (Fonte)

Mas isso nos deixa com o problema de Adão ter sido criado de barro, pó, etc. enquanto estava no céu. Teremos que assumir que o céu, uma realidade espiritual, contém todos esses elementos físicos?

Agora talvez alguém possa sugerir que embora Adão e Eva tenham sido criados na terra, eventualmente eles foram ascendidos ao céu para habitar no Jardim. Isso parece estar de acordo com a Sura 2:35 já que ela diz:

Determinamos: Ó Adão, habita o Paraíso com a tua esposa e desfrutai dele com a prodigalidade que vos aprouver; porém, não vos aproximeis desta árvore, porque vos contareis entre os iníquos.

A ordem para que habitassem no Jardim pode pressupor (mas não necessariamente) que inicialmente Adão e Eva estivessem em algum outro lugar. Assim, um Muçulmano pode desejar raciocinar que após Allá tê-los criado na e da terra, então ele os pôs no Jardim celestial.

A explicação acima ainda nos deixa com o problema de se explicar por que Adão estava no céu quando foi criado para habitar na terra como o vice-regente de Allá. Ele não foi criado para habitar no céu (pelo menos não inicialmente, já que o Alcorão eventualmente todos os verdadeiros crentes terminarão no Jardim). Então novamente, por que Adão estava no céu quando Allá o havia criado especificamente para habitar na terra?

Alguns podem dizer que a declaração na Sura 2:36 não implica em literalmente descer de um lugar mais alto para um mais baixo. Ao contrário, se referiria a uma descida de posição e de honra, as quais Adão e Eva tinham em status e prestígio. Isso implicaria que a declaração a respeito da terra sendo seu lugar de habitação significa o fato de que ao invés de desfrutarem dos luxos e generosidades de um Paraíso terrestre, o casal agora seria forçado a trabalhar para ter sua própria comida e sustento. O problema com essa exegese é que ela ignora o fato de que a ordem para descer não foi direcionada apenas a Adão e Eva, mas a todas as partes envolvidas, o que inclui Satanás também. Como Yusuf Ali notou:

 O decreto de Deus é o resultado da ação do homem. Note-se a transição (em árabe) do número singular, no versículo 33, para o dual, no 35, e para o plural, aqui, que indicamos, em português, por "descei". Evidentemente, Adão é o protótipo de toda a humanidade, e o sexo corre paralelamente todas as questões espirituais. Ademais, a expulsão aplica-se a Adão, a Eva, e a Satã, tendo-se em mente que o plural árabe é apropriado para qualquer número superior a dois. (Ibid, p. 26, nota 13; ênfases em negrito e sublinhado são nossas)

Satanás já havia perdido sua honra e prestígio, sendo amaldiçoado por se recusar a adorar Adão:

Criamo-vos e vos demos configuração, então dissemos aos anjos: Prostrais-vos ante Adão! E todos se prostraram, menos Lúcifer, que se recusou a ser dos prostrados. Perguntou-lhe (Deus): Que foi que te impediu de prostrar-te, embora to tivéssemos ordenado? Respondeu: Sou superior a ele; a mim criaste do fogo, e a ele do barro. Disse-lhe: Desce daqui (do Paraíso), porque aqui não é permitido te ensoberbeceres. Vai-te daqui, porque és um dos abjetos! Implorou: Tolera-me até ao dia em que (os seres) forem ressuscitados! Respondeu-lhe: Considera-te entre os tolerados! Disse: Juro que, por me teres extraviado, desviá-los-ei da Tua senda reta. E, então, atacá-los-ei pela frente e por trás, pela direita e pela esquerda e não acharás, entre eles, muitos agradecidos! Deus lhe disse: Sai daqui! Vituperado! Rejeitado! Juro que encherei o inferno contigo e com aqueles que te seguirem.

Recorda-te de quando o teu Senhor disse aos anjos: Criarei um ser humano de argila, de barro modelável. E ao tê-lo terminado e alentado com o Meu Espírito, prostrai-vos ante ele. S. 7:11-18

Todos os anjos se prostraram unanimemente, menos Lúcifer, que se negou a ser um dos prostrados.Então, (Deus) disse: Ó Lúcifer, que foi que te impediu de seres um dos prostrados? Respondeu: É inadmissível que me prostre ante um ser que criaste de argila, de barro modelável. Disse-lhe Deus: Vai-te daqui (do Paraíso), porque és maldito! E a maldição pesará sobre ti até o Dia do Juízo. Disse: Ó Senhor meu, tolera-me até ao dia em que forem ressuscitados! Disse-lhe: Serás, pois, dos tolerados, até ao dia do término prefixado. Disse: Ó Senhor meu, por me teres colocado no erro, juro que os alucinarei na terra e os colocarei, a todos, no erro; salvo, dentre eles, os Teus servos sinceros. Disse-lhes: Eis aqui a senda rela, que conduzirá a Mim! Tu não terá autoridade alguma sobre os Meus servos, a não ser sobre aqueles que te seguirem, dentre os seduzíveis. O inferno será o destino de todos eles. Nele há sete portas e cada porta está destinada a uma parte deles. S. 15:28-44.

Recorda-te de quando o teu Senhor disse aos anjos: De barro criarei um homem. Quando o tiver plasmado e alentado com o Meus Espírito, prostrai-vos ante ele. E todos os anjos se prostraram, unanimemente. Menos Lúcifer, que se ensoberbeceu e se contou entre os incrédulos. (Deus lhe) perguntou: Ó Lúcifer, o que te impede de te prostrares ante o que criei com as Minhas Mãos? Acaso, estás ensoberbecido ou é que te contas entre os altivos? Respondeu: Sou superior a ele; a mim me criaste do fogo, e a ele de barro. (Deus lhe) disse: Vai-te daqui, porque és maldito.

E a Minha maldição pesará sobre ti, até ao Dia do Juízo! Disse: Ó Senhor meu, tolera-me, até ao dia em que forem ressuscitados! (Deus lhe) disse: Serás, dos tolerados, até ao dia do término prefixado. Disse (Satanás): Por Teu poder, que os seduzirei a todos. Exceto, entre eles, os Teus servos sinceros! Disse-lhe (Deus): Esta é a verdade e a verdade é: certamente que lotarei o inferno contigo e com todos os que, dentre eles, te seguirem.

Vemos assim que a descida não foi apenas em status e em posição. A descida foi literal, sendo expulsos de um lugar ou de uma realidade mais elevada (o Jardim celestial) para um lugar mais baixo (a terra aqui de baixo).

Mas, isso apresenta ainda mais dificuldades. A passagem acima diz que Allá expulsou Satanás do Paraíso por se recusar a adorar Adão. Então, como é que, de que forma ele entrou no Paraíso para tentar Adão e Eva? Além disso, após Allá expulsar Satanás e o amaldiçoá-lo, ele jurou que o toleraria até o Dia da Ressurreição, o que sugere que ele não sofreria mais punição até que chegasse o Dia do Julgamento. Então como Satanás poderia ser expulso do Paraíso e depois ser rebaixado de novo? Allá renegou sua palavra?

Sexto, o pecado de Adão claramente impactou todas as futuras gerações da humanidade já que tanto 2:36 e 38 o plural (mais que dois) é usado, em oposição ao dual. Aqui, novamente, está 2:38 incluindo o 37 para não remover o contexto:

Adão obteve do seu Senhor algumas palavras de inspiração, e Ele o perdoou, porque é o Remissório, o Misericordioso. E ordenamos: Descei TODOS aqui! Quando vos chegar de Mim a orientação, aqueles que seguirem a Minha orientação não serão presas do temor, nem se atribularão.

Já vimos como o plural em 2:36 inclui Satanás, mas aqui em 2:38 o plural não pode ser uma referência a Satanás já que ele permanece condenado ao inferno e não seguirá a orientação que virá de Allá. Assim, está bem óbvio que o plural é dirigido à humanidade, que a humanidade sofreu a expulsão por causa de seu cabeça, Adão; um ponto tratado em outro lugar:

E Ele lhes disse: Descei! Sereis inimigos uns dos outros e tereis, na terra, residência e gozo transitórios.

É como Ibn Kathir disse a respeito de 2:38-39:

Allah informa Seu aviso a Adão, sua esposa e Satanás, SUA DESCENDÊNCIA, quando ordenou que ELES descessem do Paraíso. Ele diz que enviará anjos com Escrituras, sinais e provas... (Tafsir Ibn Kathir, Parte 1, Surah Al-Fatiah Surah Al-Baqarah, ayat 1 a 141)

Aqui, também, está seu comentário em 7:24:

<Descei>, foi dirigido a Adão, Hawwa’, Iblis e à serpente. Alguns estudiosos não mencionam a serpente, e Allá sabe o melhor. (Fonte)

Uma questão óbvia neste momento é: que serpente? Onde que o Alcorão menciona uma serpente em seu contexto? No entendimento Bíblico, a serpente refere-se a Satanás, mas no comentário acima eles parecem ser entidades diferentes. O comentário de Ibn Kathir a respeito da serpente é problemático também porque o que uma serpente estaria fazendo no Jardim celestial? Isso pressupõe que o Jardim era na terra, o que insere todos os problemas já mencionados acima. Mas, o fato real pelo qual Ibn Kathir menciona Iblis e a serpente junto de Adão e Eva pressupõe que o texto está se dirigindo a mais eu dois indivíduos.

Está óbvio que o plural tanto em 2:38 quanto em 7:24 se refere a Adão e seus descendentes. O antigo Muhammad Asad essencialmente argumenta seguindo o mesmo raciocínio dizendo que a história de Adão e Eva não é nada mais que uma alegoria sobre a humanidade coletiva. Ele escreveu sobre 7:24:

16 Sc;. “deste estado de benção e inocência”. Como no relato paralelo desta parábola da Queda em 2:35-36, a forma dual de endereçamento muda neste ponto para o plural, conectando-se assim mais uma vez ao verso 10 e ao início do verso 11 desta surah, e tornando claro que a história de Adão e Eva é, na realidade, uma ALEGORIA do destino humano. Em seu antigo estado de inocência o homem desconhecia a existência do mal e, assim, da necessidade constante de escolher entre muitas ações possíveis e comportamentos: em outras palavras, ele viveu, como todos os outros animais, à luz de seu instinto. Entretanto, visto que essa inocência foi apenas uma condição de sua existência e não uma virtude, isso deu a sua vida uma qualidade estática e, assim, o privou de desenvolvimento intelectual e moral. O crescimento de sua consciência – simbolizada pelo pleno desejo de obediência à ordem de Deus – mudou tudo isso. Mudou-o de um ser puramente instintivo a um humano maduro tal como o conhecemos – um humano capaz de discernir entre o certo e o errado e, assim, capaz de escolher seu meio de vida. Em um sentido mais profundo, a ALEGORIA da Queda não descreve um acontecimento retroativo, mas um novo estágio do desenvolvimento humano: um abrir das portas para as considerações morais. Ao proibi-lo de “aproximar-se da árvore”, Deus tornou possível ao homem cometer más ações – e, assim, agir igualmente bem: e assim o homem foi dotado com aquela liberdade moral que o distingue de todos os outros seres. – A respeito do papel de Sataás – ou Iblis – como eterno tentador do homem, veja a nota 26 em 2:34 e nota 31 em 15:41. (Fonte; ênfases em maiúsculas e sublinhados são nossas)

Ele basicamente reitera isso em seu comentário em 2:36:

30 Nesta sentença, o endereço muda da até então observada forma dual para o plural: uma indicação a mais de que a moral da história refere-se a toda a raça humana ... (Fonte; ênfases sublinhadas são nossas)

Aqui, também, o comentário de Y. Ali sobre 2:36 que já citamos acima:

... Note-se a transição (em árabe) do número singular, no versículo 33, para o dual, no 35, e para o plural, aqui, que indicamos, em português, por "descei". Evidentemente, Adão é o protótipo de toda a humanidade, e o sexo corre paralelamente todas as questões espirituais. Ademais, a expulsão aplica-se a Adão, a Eva, e a Satã, tendo-se em mente que o plural árabe é apropriado para qualquer número superior a dois. (Ênfases em negrito e sublinhado são nossas)

O Alcorão está essencialmente concordando com a Bíblia Sagrada que Adão fez com que todas sua descendência fosse expulsa do Jardim. Não somos os únicos a ver desta forma; as seguintes fontes Muçulmanas também vêem da mesma forma:

Está relatado na autoridade de Abu Huraira e Hudhaifa que o Mensageiro de Allá (que a paz seja sobre ele) disse: Allá, o Bendito e Exaltado, reunirá as pessoas. Os crentes permanecerão até que o Paraíso seja trazido a eles. Ele irão a Adão e dirão: Ó, nosso pai, nos abra para o Paraíso. Ele dirá: O que os tirou do Paraíso FOI O PECADO DE SEU PAI, ADÃO. Eu não estou em posição de fazer isso; ... (Sahih Muslim, Livro 001, Número 0380)

Relatou Abu Huraira:

O Profeta disse, “Adão e Moisés discutiam entre si. Moisés disse a Adão: Ó, adão! Você é o pai QUE NOS DESAPONTOU E QUE NOS TIROU DO PARAÍSO.’ Então Adão disse a ele, ‘Ó, Moisés! Allá te favoreceu com Sua conversa (falou contigo diretamente) e Ele escreveu (a Tora) para você com Sua Própria Mão. Você me culpa pela ação que Allá escreveu em meus destino quarenta anos antes de minha criação?’ Então Adão refutou Moisés, Adão refutou Moisés,” o Profeta completou, repetindo a frase três vezes. (Sahih Al-Bukhari, Volume 8, Livro 77, Número 611)

Abu Huraira contou que o mensageiro de Deus falou sobre Adão e Moisés tendo uma discussão na presença do Senhor e que Adão vencia Moisés em seu argumento. Moisés disse, “Você é Adão a quem Deus criou com Suas mãos, a quem Ele assoprou Seu espírito e a quem Ele fez os anjos obedecerem, e quem Ele fez habitar seu Jardim; então, POR CAUSA DE SEU PECADO a HUMANIDADE teve de descer para a terra.” Adão respondeu, “e você é Moisés a quem Deus escolheu para entregar Suas mensagens e a quem Ele deu as tábuas explicando tudo, e a quem Ele tomou por confidente. Quanto tempo antes de eu ser criado você acha que Deus havia escrito a Tora? Moisés disse, “Quarenta anos.” Adão perguntou, “Você acha isso, [que] ‘Adão desobedeceu seu Senhor e errou’?” Ao responder que sim, ele disse, “Você me culpa por fazer aquilo que Deus decretou que eu deveria fazer quarenta anos antes de haver me criado?” O mensageiro de Deus disse, “Então Adão venceu Moisés nos argumentos.” Muslim transmitiu isso. (Mishkat Al-Basabih  English Translation With Explanatory Notes, por dr. James Robson, Volume I).

Yahya me falou de Malik de Abu’z-Zinad de al-Araj de Abu Hurayra que o Mensageir ode Allá, que Allá o abençoe e conceda-lhe paz, disse, “Adão e Musa discutiram e Adão venceu Musa. Musa acusou Adão, ‘Você é Adão QUE DESVIOU AS PESSOAS e as fez sair do Jardim.’ Adão disse-lhe, “Você é Musa a quem Allá deu conhecimento de tudo e a quem ele escolheu sobre seu povo com Sua mensagem.’ Ele disse, ‘Sim’. Ele disse, ‘Então você me censura por algo que foi decretado antes de eu ter sido criado? (Muwatta de Malik, Livro 46, Número 46.1.1)

Este Ayah menciona a grande honra que Allá concedeu a Adão, e Allá lembrou a descendência de Adão sobre este fato. Allá ordenou que os anjos se prostrassem diante de Adão, como este Ayah e muitas Hadices testificam, tal como a Hadice sobre a intercessão que já discutimos. Há uma Hadice sobre a súplica de Musa, “Ó, meu Senhor! Mostre-me Adão que fez com que nós e ele próprio fossemos expulsos do Paraíso.” Quando Musa encontrou Adão, ele disse-lhe, “Você é Adão a quem Deus criou com Suas Próprias Mãos, a quem soprou vida e a quem os anjos foram ordenados para se prostrar? Iblis estava entre este que foram ordenados a se prostrar diante de Adão, embora ele não fosse um anjo. (Ibn Kathir sobre sura 2:34. ênfases em negrito são nossas)

As narrativas complicam ainda mais o caso. Põem o pecado de Adão e a expulsão subseqüente ao decreto predeterminado de Allá, que Allá já havia predeterminado que Adão não cairia em erro. Aqui, novamente, um comentário de Ibn Kathir, desta vez sobre 2:37:

... Narrou Sufyan At-Thawri citando ‘Abd al-‘Aziz Ibn Rafi’ que alguém ouviu Mujahid citando ‘Ubayd Ibn ‘Umayr dizendo que Adão disse: “Meu Senhor, o pecado que cometi é um dos que foram-me destinados antes de Ti criar-me ou é algo eu mesmo causei?” Allá respondeu: “Eu preordenei isso a você antes de criá-lo”. Adão disse: “Senhor, perdoe-me por isto que preordenaste a mim.” O narrador disse, a respeito do verso <Então Adão recebeu as palavras de seu Senhor e seu Senhor o confortou.>. Narrou al-‘Awfi, Sa'id Ibn Jubayr, Sa'id Ibn Ma’bad e al-Hakim citando Ibn ‘Abbas: Adão disse a Allá: “Tu não me criastes com Suas próprias mãos?” A resposta foi que sim. Então ele perguntou: “E tu sopraste em mim Teu espírito?” Novamente a resposta foi que sim. Ele completou: “E tu me decretaste fazer isso?” Sim foi a resposta que ele recebeu. Ele disse, “Se eu me arrepender, me enviarás de volta ao Paraíso?” Allá disse: “Sim”. (Tafsir Ibn Kathir).

O que isso implica é que Allá já havia determinado que Adão terminaria na terra por pecar contra o mandamento de Allá, necessitando, assim, expulsá-lo do Jardim!

 


* This article is a translation of "Allah, Adam, and the Angels" - original

* Este artigo é uma tradução de "Allah, Adam, and the Angels" - original

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Palavras-chave

Mohamed, Maomé, Muhamed, Mohammed, Islã, Islam, Alcorão, Al-Corão, Quran, Korão, Al-Korão, hadith, hadice, sharia, tafsir, islamismo.


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